Tiver x Estiver
Ao falarmos, nós brasileiros temos o costume de usar as formas verbais “tiver” e “tivesse” para nos referirmos a algum lugar no qual nos encontramos ou a algo que estejamos fazendo em determinado momento. É comum ouvirmos frases como “Se ela tiver no trabalho ainda, vou ligar depois” ou “Pensei que você tivesse em casa”.
Nesses contextos, os termos em destaque foram utilizados erroneamente e representam um modo informal de falar. Com o uso de aplicativos de mensagens e redes sociais, em que a informalidade impera, ficou mais comum ver essa utilização também na escrita. Porém, para quem deseja falar e escrever um português mais correto e elegante, é fundamental entender as questões gramaticais que envolvem as expressões que usamos no dia a dia.
Mas, afinal, qual é o problema com “tiver” e “tivesse”?
Nas frases dos exemplos acima, essas palavras referem-se ao verbo “estar”; porém, como a fala é dinâmica, muitas vezes, ao articularmos as palavras, acabamos “comendo” algumas letras – no caso, a sílaba “es” – e, assim, nos desviamos da norma culta e cometemos esses erros (e, por associação, acabamos levando esses desvios para a escrita). “Estou” vira “tô”, “está” vira “tá”, “estiver” vira “tiver, “estivesse” vira “tivesse” e por aí vai. Na fala, a apócope (uau, que tal dar um google aqui?) é bem aceita. O problema é quando ela é transferida para a escrita.
Suprimir sílabas ou apenas uma letra da fala na escrita pode gerar ambiguidade, pois “tiver” e “tivesse” também existem na norma culta e correspondem a conjugações do verbo “ter”. “Tiver” é o futuro do subjuntivo e “tivesse” é o pretérito imperfeito do subjuntivo, ambos da 1ª e da 3ª pessoa do singular.
Já “estiver” é o futuro do subjuntivo, e “estivesse” é o pretérito imperfeito do subjuntivo do verbo “estar”, também em 1ª e em 3ª pessoa do singular.
Para ficar mais claro, vejamos exemplos do uso dessas formas verbais na norma culta:
Estar
Quando você estiver na cidade, poderemos nos encontrar.
Eu acreditava que ela estivesse trabalhando, mas descobri que perdeu o emprego.
Se eu estivesse no local do acidente, poderia ter ajudado.
Ter
Se eu tivesse dinheiro, faria uma viagem internacional.
Quando ele tiver terminado a lição, poderá ir brincar.
Portanto, entendendo as diferenças entre as formas verbais e a forma correta de dizê-las e escrevê-las, poderemos saber em quais situações utilizá-las e, assim, evitar erros e ambiguidades.